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Caminho do Tejo

     Há 11 anos atrás, que é como quem diz em 2006, eu dei os meus primeiros passos nestas coisas de pedalar e viajar, em autonomia, sempre à procura da aventura.

     Nesse ano, tive o privilégio de ter a companhia de mais dois loucos, o Paulo Quitério e o Jorge Ricardo. Sim! Eu sei. Foram só dois dias. Mas, acreditem! Foram dois dias intensos e que marcaram imenso. Na altura, o Jorge escreveu um texto, bem engraçado, relatando esta nossa aventura.

     "Não querendo ser chato, vou tentar escrever qualquer coisa do género "Viagens na Minha Terra", com a minha GRISLEY.

 

     Sábado, 20 de Maio, 9:30 horas partida do Parque das Nações (pala) com destino a Fátima. Três compadres, eu e mais dois amigos algarvios.

     Bikes apetrechadas e nervosas, pois, não é todos os dias que têm 150 km para fazer (170 km até ao transporte que me trouxe de volta a casa).

     A partida deu-se com destino ao rio Trancão (Sacavém) onde descobrimos o primeiro azulejo que se iria multiplicar por todo o percurso até ao destino. Sempre que existia uma dúvida bastava chamar por este marco que ele aparecia. Curiosa a paciência de quem os distribuiu por todo o percurso. Estrada, mato, ou no meio das pedras da serra de Santo António lá estavam eles, sempre a descoberto e a guiarem o caminho do pessoal.

     Pedalando junto ao Trancão, com os barulhos dos aviões como música de fundo lá fomos nós até Alverca do Ribatejo, para depois seguirmos até Vila Franca de Xira onde tivemos que percorrer alguns km na Nacional. Sai uma sandes de carne assada que a barriga já chama e as pernas querem descansar um pouco. É que já fizemos uns quantos km.

     Em Reguengo de Valada fizemos nova paragem para uma bela sandes de presunto, ou melhor, duas, pois isto de pedalar dá fome. E melhor ainda, foram os 1.10€ que pagamos por cada sandes de presunto, bem aviada e com manteiga. Quando quiserem comer uma sandes de presunto boa e barata já sabem – Reguengo de Valada é o destino.

     Ali perto, não deixamos a nossa curiosidade ficar alheia a uns avisos de alienígenas nas proximidades. Descobrimos a Palhota, pequena povoação piscatória, localizada onde ninguém desconfia, onde as casas se elevam com medo da subida do Tejo. O café do Zé Broa estava fechado, mas a praia convidava a um belo mergulho. Pena o pessoal não ter levado toalha de praia, a mochila já ia pesada.

     Roupa (de BTT e de descontração), água, necessaire, etc. Mas com os km a passar o pessoal deixou de sentir este peso nas costas.

     Chega de conversa fiada. Valada tem uma bela praia fluvial e uma marina, não sendo da envergadura da de Vilamoura, tinha lá ancorado um iate e tudo. Motas de água a fazer ondas e pessoal a andar de canoa. Perfeito. No meio do nada um oásis. Curioso é que não sei lá ir ter de carro. Santarém à vista. Primeira subida do dia, digna desse nome. 

     A chegada à cidade de Santarém! Fixe. O meu Conta km marcava 83,53 à chegada à pensão Vitória, bem no centro de Santarém, perto do Fórum.

     Desfizemos a mochila, banhinho, e lá saímos para a merecida refeição. Umas belas febras com batatas fritas e umas espetadas grelhadas foram os pratos escolhidos. Refeição, esta regada com um belo panaché (não sei se é assim que se escreve). Apesar de desportistas, pelo menos neste dia, aquele panaché soube que nem um troféu, daí que tenhamos bebido mais um.

22:30 já o “people” ressonava, é que a próxima jornada era dura.

Do Parque das Nações (Lisboa) a Santarém

Ficha Técnica:

1º dia > 

Notas de viagem: 

Parque das Nações (Lisboa) > Santarém - 85,53 km

De Santarém a Fátima

     Domingo, 9h 30m novamente, nádegas um pouco doridas, depois de as sentar novamente no belo selim de gel (se não fosse ele não sei) e pernas para que vos quero. Primeiro demos numa de gente culta passeando pelos monumentos da cidade e pela Escola Prática de Cavalaria, para o Ti Paulo reviver belos momentos de mancebo. Foto junto a um tanque de guerra (talvez da 1ª ou 2ª mundial, não sei) para marcar a passagem.

     Seguimos então com destino a Fátima, num percurso já com cheiro a BTT, com percursos de serra, em sítos longe de tudo, aldeias onde não se passa nada. Azóia de Baixo, Santos, Arneiro das Milhariças, são alguns dos exemplos. Mais ou menos à hora do almoço, e este sem aparecer, a fome despertava e nada de encontrar pão. Os cafés destas localidades ao Domingo não têm pão. Fónix e agora!?

     Foi então que surgiu um compadre dono de um café que ao aperceber-se do estado de ansiedade do pessoal, no que respeita à fome manda parar uma carrinha de pão que ia a passar para nos vender o bendito alimento. O homem também não tinha, mas mandou-nos ir ao seu café, "mais além", que tinha pão de fabrico caseiro. Hora, nem mais. Pãozinho caseiro, ai vamos nós. Sai 2 belas sandes para mim e para o Ti Paulo, uma para comer na hora, outra para a viagem. Ainda falta um pouco e o pessoal não sabe se vai encontrar outro café com pão de fabrico caseiro. O outro Paulo não precisa de se abastecer. Compadre habituado a estas lides de grandes tiradas ciclísticas, trouxe farnel para os 2 dias. Com a barriga mais satisfeita lá seguimos a nossa jornada.

     Depois de mais umas valentes pedaladas, chegamos a mais um oásis. Praia Fluvial de Olhos de Água, na nascente do Rio Alviela. É espetacular. Mais uma vez o mergulho se mostrava apelativo, mas os km que faltavam não permitiram.

     E ainda bem que não parámos. Serra de Santo António. Depois de pedalarmos direitos ao céu, pela inclinação da subida, os amigos azulejos assinalavam o percurso mais difícil que já vi de BTT. Downhill!? Ao pé disto mais parece percurso de estrada.

     As bikes assustaram-se e subiram para as costas do pessoal. Tivemos que as carregar num percurso de pedras, arbustos, carrasqueiras e demais mato, durante aproximadamente 30 a 45 minutos. Sempre a pico, até ao alto da serra. Lá chegados, descida divinal para Minde, onde foi atingida a velocidade máxima do percurso. 67Km/h marcou o meu velocímetro.

     Já cheirava a Santuário, mas ainda faltava um percurso difícil, pelo piso, e pela inclinação da Serra d'Aire e Candeeiros. Após mais umas pedaladas, com uns chuviscos à mistura, lá avistamos a torre da Basílica de Fátima.

    Chegámos ao destino, pelas 17 horas da tarde. Curiosamente as mesmas da chegada a Santarém, assim como a hora de partida, igual, 9:30 no Parque das Nações e 9:30 na saída de Santarém.

 

     Cumprido o ritual da queima de velas, procurámos um café para aquecer o estômago. Estava um frio de rachar, mais parecia um dia de Inverno. Chegou a hora da separação. Os Paulos seguiram para a estação de Fátima, para apanhar o comboio com destino a Lisboa, para seguirem depois para o Algarve, a cerca de 20 km. Eu, segui para Pedrógão d'Aire, terra da minha cara metade a sensivelmente 18 Km de Fátima. Acabei o percurso com 171.20 Km.

Para a história fica o registo de uma pequena aventura.

Um grande abraço para os compadres do pedal." [*]

[*] Texto escrito por Jorge Ricardo,

in Blog "maniacosdopedal.blogspot.pt"

Junho de 2006

Ficha Técnica:

2º dia > 

Notas de viagem: 

Santarém > Fátima - 65 km

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