De bicicleta
Pedalando na minha Terra
1ª etapa - On the Road...
Até Mértola

Uma viagem destas tem que ter sempre algo de aventura, com alguma lógica, seguindo um suposto ideal... como se esse fosse a essência da viagem. Nesta, foi o facto de ser em autonomia, sem apoio de alguém de carro. Ou seja... éramos só nós os dois, eu e o Diogo, o meu amigo nesta aventura. Por outro lado, quis sair logo de casa, da porta, sem recorrer ao automóvel para irmos para uma possível partida... Foi mesmo do tipo sair, montar e começar a pedalar pela estrada a fora.
Esta viagem também foi a primeira por estrada. Queria encontrar aquela estrada especial, daquelas vazias, praticamente sem tráfego automóvel, em que a paisagem deslumbra, em que o silêncio potencia a paz interior... daquelas que nos fazem um grande sorriso na face.
Foi com esta missão em mente que partimos bem cedo. As madrugadas têm sempre algo de especial, mágico... De um lado, ainda parece noite, com a Lua ainda a espreitar... do lado oposto, um mar de tons laranjas anunciavam que o Sol já batia à porta. A esta hora tudo parece mais calmo, tranquilo... Isso sente-se mesmo na pedalada, mais calma, mais lenta, sem stress. A melhor maneira de começar uma viagem.
Já sabíamos que grande parte da manhã seria a subir. Ainda por mais, tínhamos as bicicletas carregadas e isso também iria dar algum desgaste. Por isso, a pedalada foi calminha. Até a Loulé fomos sempre por estradinhas secundárias, daquelas estreitas e vazias. A partir de Loulé seguimos pelas EN 396 até entrar na EN 124 em direcção ao Barranco do Velho e fazer umas das clássicas subidas da Serra do Caldeirão. Pedalar por estas estradas acima é fantástico. Toda a estrada parece dançar de curva em curva, destapando belas paisagens ou visitando simpáticas aldeias. Este facto, faz com que seja um prazer pedalar por estas estradas, apesar de ser quase sempre a subir, de forma suave, mas sempre a subir...



Seguindo pela EN 124 em direcção a Cachopo o factor paisagem torna-se ainda mais especial. É quase como se pedalássemos sempre pela mesma curva nível, quase sempre em redor dos 500m de altitude, com um extenso horizonte para Sul. A partir de Cachopo, ainda pela EN 124, agora em direcção a Martinlongo a paisagem começa a mudar. Menos serra, menos curvas, menos vegetação e mais calor. Contudo, as panorâmicas continuaram a encantar.
A partir de Martinlongo... aliás, um pouco mais à frente, onde se cruza a ribeira do Vascão, que estava completamente seca, entramos na zona do grande calor. Um paisagem toda feita de tons amarelos e ocres, onde a sensação de secura foi bastante forte. Isto dá que pensar um pouco... Estamos em Outubro, em pleno Outono e a temperatura quase que nos cozia vivos com os seus quase 40º!
É nestes momentos, de alguma aflição, quando já começava a faltar a água e não aparecia um café ou aldeia... Num cruzamento, com uma grande igreja à esquerda, vimos uma placa que apontava para a aldeia de Monte Gato. Arriscamos e fomos até lá. O primeiro impacto foi um vazio... ruas sem ninguém... até as casas pareciam vazias... De repente, surgiu uma velhota. Perguntamos se havia por ali um café. E ela responde que sim e indica-nos aonde.... Quando lá chegamos o nosso alívio era bem evidente. Mas, o mais impressionante foi a forma como fomos recebidos e atendidos... Como se fossemos residentes da aldeia... Impressionante! Bebemos e comemos à grande...



A partir de Monte Gato seguimos o nosso caminho. Passamos por São Miguel do Pinheiro, onde existe um moinho muito bem restaurado e onde dá para fazer uma visita interactiva sobre como se faz o pão. A partir daqui a estrada começou a ondular de forma algo acentuada por longas rectas... Se as descidas até eram simpáticas, pela velocidade sem pedalar, também eram desconfortáveis pelo impacto com o "bafo" quente do ar. E depois, a subida era chata como tudo, sem ser inclinada o suficiente para colocar andamentos mais leves, mas fazia aquele ardor desgraçado nas pernas. Ainda pedalamos um pouco nesse sobe e desce... até que um dos "desce" levou-nos até aos pés da linda Vila de Mértola. Quando se chega à ponte antiga sobre a ribeira de Oeiras e se olha para cima... facilmente nos deixamos impressionar pelas grandes muralhas do castelo.
Após uma curta subida, entramos na principal avenida de Mértola, que desce suavemente até à grande ponte que nos leva para a outra margem do rio Guadiana. Daqui, a vista para a vila é simplesmente fabulosa. O final da nossa 1ª etapa acabou numa pequena localidade, Além Rio, onde nos esperava o conforto da encantadora Casa da Tia Amália e um jantar retemperador na Casa Amarela, com uma fantástica vista para a vila.

1º dia - Saindo de Casa até Mértola
Ficha Técnica:
1º dia - Saindo de Casa até Mértola
Início do percurso: Casa
Distância: 116,2km
Subida acumulada: +1718m
Ponto mais alto: 531m
Ponto mais baixo: 34m
Observações:
De Cachopo em diante as distâncias entre localidades é grande e nem todas têm cafés para o abastecimento


